Esconde-Esconde
Esconde-Esconde
por: Rabino David Aaron
A fim de explicar profundas verdades cabalísticas, o grande mestre chassídico do século 18, Rebe Nachman de Breslav, gostava de
contar histórias. Em "O humilde rei", ele ilustra o processo de autoconhecimento Divino.
Um rei intima seu conselheiro e lhe diz que possui retratos de todos os reis do mundo exceto de um, que, é claro, ele deve adquirir
para completar sua coleção. Ele ordena ao conselheiro localize que esse rei e faça o seu retrato. Mas esta não é uma tarefa tão simples.
Ninguém jamais viu esse rei porque ele se senta atrás de uma cortina. Outro mistério - a assinatura do misterioso rei é "guerreiro poderoso, homem da verdade e pessoa humilde". (Se a história soa familiar, saiba que o Rebe Nachman morreu cerca de noventa anos antes do livro O Mágico de Oz ser escrito.)
O sábio conselheiro aceita a missão e vai ao país onde o misterioso rei governa. A fim de juntar pistas sobre como abordar esse rei, ele decide conhecer o lugar primeiro. E começa de modo estranho - escutando as piadas que o povo conta, já que, ele pensa, a natureza fundamental de um país se baseia em seu senso de humor. A partir das piadas, o conselheiro passa a entender que os cidadãos daquela terra são falsos e enganadores.
Com essa informação na manga, o conselheiro planeja uma maneira de ver o rei. Ele entra em uma negociação e se deixa enganar.
Então ele leva o caso à corte e descobre que o próprio tribunal funciona com subornos e falsidade. Ele leva o caso a uma instância
maior, onde encontra a mesma corrupção. Então ele leva o caso a vários tribunais, até que finalmente pode levá-lo ao rei, que julga por
trás de uma cortina.
Quando o conselheiro finalmente consegue uma audiência, ele diz ao rei que seu reino é completamente repleto de falsidade.
Logicamente, esperamos que o rei seja como seus súditos. Mas o conselheiro pensa que talvez não seja assim; talvez o rei seja na verdade um homem honesto e por isso se esconda-para se distanciar de seus
súditos porque não tolera suas mentiras.
Com isso em mente, o conselheiro começa elogiando o rei, para ver se ele é realmente humilde, e, à medida que elogia cada vez mais,
o rei fica cada vez menor, até que ele se torna quase como um nada. Finalmente, o rei abre a cortina para ver quem é esse homem que o
entende tão bem. Nesse momento, o conselheiro faz rapidamente um retrato do rei e o leva ao seu próprio rei.
Essa história cheia de alusões cabalísticas é incomum porque tem dois reis; geralmente as histórias do Rebe Nachman têm apenas um
rei, que simboliza Deus. É estranho que nessa história um rei manda seu conselheiro encontrar outro rei. Quem é o outro rei? Na verdade
não há outro rei. A história é sobre dois aspectos de um só rei.
O Rebe Nachman ensina com essa história que aquele que nos
manda em nossa busca é o mesmo a quem procuramos. O rei além de nós nos manda encontrar o rei dentro de nós. O rei "exterior" quer ver uma foto do nosso rei "interior" - que é, de fato, um reflexo dele mesmo. O conselheiro representa cada um de nós. Nosso desafio e
jornada na vida é fazer o retrato único do rei interior como reflexo do rei exterior. Cada um de nós deve expressar e revelar a singularidade
da alma como reflexo de Deus. A missão do conselheiro do rei (você e eu) é ser um agente do rei (Deus) e trabalhar em seu nome para
facilitar Seu processo de autoconhecimento e autorreflexão.
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